Dando continuidade à investigação sobre o comércio ilegal de cobre furtado na capital, com o objetivo de aprimorar a legislação para coibir o crime – que tem causado apagões de energia e internet em várias regiões do município -, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Furtos de Fios e Cabos da Câmara Municipal de São Paulo recebeu, nesta quinta-feira (7/3), representantes da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Foram ouvidos, simultaneamente, o chefe do departamento de segurança da companhia, coronel Antônio Carlos Rodrigues, e a supervisora de segurança da empresa, Eliane Cristina Bonfim, que falaram sobre os impactos negativos causados na operação da CPTM pelo furto de fios.
Segundo dados apresentados à CPI, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos transporta atualmente cerca de 1,5 milhão de pessoas por dia nas cinco linhas sob sua operação, que passam por 18 municípios ao longo de 196 quilômetros de via.
Sobre o furto de fios e cabos na CPTM, em 2021 houve 124 casos; em 2022, foram registrados 56; em 2023 houve 110; e em 2024, até o dia 29 de fevereiro, foram contabilizadas 17 ocorrências. Em relação à distribuição dos crimes, eles ocorreram principalmente nas linhas: 7 Jundiaí-Luz, 10 Luz-Rio Grande da Serra e 11 Luz-Estudantes.
Esse cenário traz uma série de problemas aos passageiros que utilizam os trens operados pela companhia. “Uma ocorrência de furto numa dessas linhas, que paralisa a circulação ou que impede os trens de andarem normalmente, de circularem normalmente, acarreta uma série de consequências na vida das pessoas”, frisou o coronel Antônio Carlos Rodrigues.
“Nossos passageiros perdem horários de consulta, perdem entrevistas de emprego, perdem emprego, enfim, têm uma série de consequências que não são tangíveis, porque o furto de fio tem um custo, mas todo esse prejuízo aos nossos passageiros é absolutamente incalculável”, completou o chefe do departamento de segurança da companhia.
O prejuízo causado pelo furto de fios e cabos também se reflete na credibilidade da CPTM. “Nós temos um prejuízo da imagem da companhia e, consequentemente, há uma série de reclamações. A imprensa divulga o problema, sempre há uma crítica muito grande dizendo que a CPTM falhou, mas na realidade nós somos vítimas de todo esse processo”, afirmou.
Segundo Rodrigues, o problema também impacta a segurança do sistema como um todo, especialmente em situações em que há interrupção de circulação e os passageiros são obrigados a descerem dos trens. “Quando tem usuário, passageiro na via, não há possibilidade de circulação. E, fora isso, nós temos idosos, cadeirantes que precisam ser resgatados. Muitas pessoas descem à via e acabam se machucando, torção de tornozelo, torção de joelho, machucados de uma forma geral. Então, isso é prejuízo certo para a companhia”, explicou, acrescentando que quando há este tipo de ocorrência, o centro de controle é acionado e não existe o risco de acidentes entre trens, uma vez que toda operação é interrompida.
A supervisora de segurança da CPTM, Eliane Cristina Bonfim, acrescentou que este tipo de crime tem consequências indiretas à segurança do entorno das estações de diferentes formas. “Nós temos vários tipos de fios e cabos que são furtados. Além dos cabos que são cortados na circulação, tem os cabos das áreas operacionais também. Por exemplo, cabos de iluminação, cabos de para-raio, então tem outras consequências e outros prejuízos para os passageiros”, citou.
“Se uma entrada de estação, se uma rua está mal iluminada, a probabilidade de furtos é muito grande. Se tem um furto de para-raios também, temos que consertar, fazer a manutenção muito rapidamente. Como tem essa diversidade e nós estamos em 196 quilômetros, tem muitas possibilidades de furtos. Então, não seria só na circulação, mas gera impacto em todo o âmbito da empresa”, ressaltou Eliane.
Sobre medidas preventivas, o chefe do departamento de segurança da CPTM, coronel Antônio Carlos Rodrigues, destacou que a cada 10 dias é feito um levantamento de todas as ocorrências que acontecem no sistema. Especificamente no caso dos fios e cabos, os dados são analisados e é feito um mapa de calor que direciona o posicionamento dos vigilantes, dos agentes de campana e das rondas.
Além disso, são estudadas novas tecnologias, como utilização de diferentes materiais, em detrimento do cobre, na composição dos fios e cabos, bem como novas formas de vedação das caixas de distribuição, alarmes, entre outros.
Por fim, o chefe do departamento de segurança da CPTM sugeriu maneiras de o Poder Público auxiliar no combate ao problema. “Do ponto de vista da legislação, eu acho que tem que endurecer um pouco”, comentou Rodrigues.
Ao final, o relator dos trabalhos, vereador Coronel Salles (PSD), analisou os depoimentos. “Um dado muito interessante, é voz corrente em todos que nós chamamos aqui, e isso é uma ação que depende do Congresso nacional, é que o apenamento com relação ao furto, com relação à receptação [de fios e cabos] deveria ser mais gravoso, ele não inibe [o crime]. A gente sempre diz que a mãe do crime é a impunidade, então temos que refletir para que consigamos colocar a estrutura do município de São Paulo, por meio da Câmara, para melhorar a legislação”, concluiu Salles.
Requerimentos
Fora as oitivas, a CPI dos Fios aprovou dois requerimentos: um com pedidos de informação ao Metrô, Via Mobilidade e CPTM; e outro convidando representante técnico da Abrem (Associação Brasileira dos Recicladores de Metais) para colaborar com as investigações.
A reunião desta quinta – cuja íntegra pode ser conferida no vídeo abaixo – foi conduzida pelo presidente da CPI, vereador Aurélio Nomura (PSDB). Também participaram o vice-presidente da Comissão, vereador Eli Corrêa (UNIÃO), o relator dos trabalhos, vereador Coronel Salles (PSD), e o vereador Hélio Rodrigues (PT), integrante do colegiado.