Ninguém melhor do que o enfermeiro Fábio Soares para falar sobre a história e a essência do Samu. O socorrista tem 30 anos de profissão, 25 deles dedicados ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência na capital paulista. E mesmo depois de tanto tempo, o funcionário mais antigo em atividade na instituição garante levantar da cama todos os dias com a mesma disposição. Para ele, o segredo é o amor pelo que faz.
“Eu costumo dizer que, verdadeiramente, eu nunca trabalhei. Porque escolhi uma atividade que tenho prazer em realizar. E minha maior motivação é essa: poder ajudar alguém em um momento de necessidade. É um trabalho extremamente gratificante. Se eu pudesse contar tudo o que já fizemos de diferença nesses 23 anos (…). É muito bom ajudar alguém e saber que essa pessoa vai ter uma oportunidade de continuar vivendo. É emocionante”.
O depoimento de Soares talvez possa representar a voz de cada um dos médicos, enfermeiros e socorristas que se arriscam diariamente para salvar vidas. Pelos serviços prestados, o Samu recebeu uma homenagem nesta sexta-feira (24/11) na Câmara Municipal de São Paulo. O evento comemorou os 25 anos da Instituição na cidade, com destaque para a modernização do serviço ao longo do tempo.
Na abertura da Sessão Solene, no Salão Nobre, o presidente da Casa e autor da iniciativa, Milton Leite (DEM), afirmou que o reconhecimento do Legislativo Paulistano foi uma questão de justiça.
“É com especial alegria que compareço a essa Sessão Solene. São homens e mulheres que me enchem de orgulho por vários motivos. Primeiro, por ser uma instituição que se tornou referência no atendimento de qualidade e conquistou o respeito dos paulistanos. E principalmente porque são profissionais dedicados, que estão nas ruas desta imensa metrópole salvando vidas. Nada mais justo que essa instituição receba um importante reconhecimento aqui na Casa do Povo, porque aqui está o reflexo de nossa sociedade”.
O vereador aproveitou para destacar os números do Samu na cidade. “Atualmente, só na capital, há 73 bases espalhadas, 120 ambulâncias e 36 motolâncias (motocicletas de atendimento móvel) que realizam 1,2 mil atendimentos diários e atendem 9 mil ligações pelo 192. É algo realmente expressivo que temos de destacar”, disse o parlamentar.
Leite também ressaltou o fato de que o tempo médio de chegada a uma ocorrência em São Paulo é de 10 a 18 minutos. A observação do vereador foi mencionada pela vice-coordenadora do Samu São Paulo, Maristela Nakano, como um dos principais e mais importantes desafios das equipes que atuam no front do atendimento.
“É de extrema importância esse atendimento imediato. No caso de AVC, por exemplo, o ideal é que a espera não passe de 20 minutos. Quanto mais rápido esse paciente chegar ao hospital e fizer a tomografia, mais chances ele tem de evitar sequelas e até mesmo a morte. A dificuldade existe porque as distâncias são grandes, mas temos bases instaladas na cidade inteira”.
Sobre a homenagem, Maristela fez questão de dizer que o reconhecimento na Câmara serve como combustível para cada um dos profissionais envolvidos.
“É a primeira vez que a gente recebe uma homenagem dessa monta. E é algo que nos enche de orgulho, porque realmente é o reconhecimento pelo trabalho. O trabalhador do Samu é diferente daquele que atua no hospital ou em boas condições. Ele fica exposto à chuva, ao sol, à fome e até à falta de banheiro. E é um trabalhador que arrisca a sua vida. Então é gratificante e emocionante receber essa homenagem. E nos estimula a atender cada vez mais e melhor”, disse.
O coordenador de RH Adriano Francisco lembrou que a busca diária por motivação, mesmo diante das dificuldades, é um dos traços mais fortes dos profissionais do Samu paulistano.
“Temos problemas, mas com certeza a dedicação é imensa. Tem muito servidor que mesmo sentindo dor ou não estando 100% ainda dá o sangue para o Samu e para quem precisa”.
História
Antes de 1992, quando foi criado o Samu, o atendimento pré-hospitalar na capital paulista existia desde 1976. Na época, contava com apenas 20 ambulâncias.
Em 1980, a antiga Telesp (Telecomunicações de São Paulo) cedeu o prefixo 192. Um ano depois, o serviço ganhou o primeiro manual com orientações sobre as técnicas de socorro.
No fim de 1986 teve início o processo de modernização do Samu. Um programa de cooperação técnica entre as cidades de Toronto (Canadá) e São Paulo criou um novo sistema de treinamento de instrutores e levou à aquisição de equipamentos de radiocomunicação e novas ambulâncias.
Depois de avanços constantes na década de 1990, em 2003 o Samu finalmente foi implantado nos moldes que segue até hoje, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde.
Certificados internacionais
O ‘Samu – 192’ na cidade foi acreditado como Centro de Despacho de Emergências Médicas de Excelência pela primeira vez em março de 2012, época em que o serviço tinha apenas 11 meses de protocolo.
Em 2015, o trabalho de salvar vidas rendeu ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de São Paulo a renovação do certificado de acreditação como Centro de Despacho de Emergências Médicas de Excelência ocorreu nos Estados Unidos. Apenas 159 cidades no mundo têm esse título. A capital paulista é a única na América Latina.
Fico muito feliz pela mais que merecida homenagem. Tenho orgulho de ter trabalhado na Central e testemunhado verdadeiros atos de heroísmo dos colegas. Que tenham o mesmo reconhecimento que leio em publicações especializadas no Exterior, principalmente nos países nórdicos.