Apesar dos baixos níveis dos reservatórios do Sistema Cantareira responsável por abastecer mais de oito milhões de pessoas na cidade de São Paulo , o professor titular de tecnologia de infraestrutura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), Ricardo Toledo Silva, acredita que a capital paulista não terá falta de água, mesmo se o racionamento não for adotado.
De acordo com ele, o governo estadual está tomando as medidas necessárias para evitar a falta de água. O racionamento não é a única maneira de reduzir o consumo. Tecnicamente existem muitas outras formas de fazer isso sem prejudicar a população. O Estado está oferecendo bônus na conta e diminuindo a pressão da água durante a noite. Essas duas ações já ajudam a reduzir os gastos com água significativamente, explicou Silva.
O bônus em questão é uma ação da Sabesp que concede desconto de 30% na conta de água para clientes que reduzirem em pelo menos 20% o consumo médio. O primeiro balanço divulgado pela concessionária, em março, revelou que a economia chegou a 6,2 mil litros de água por segundo.
Além disso, mesmo que não chova o suficiente para abastecer o Sistema Cantareira, o professor garante que é possível conseguir água de outras bacias. Existe um outro sistema, formado pelas represas do Alto Tietê, entre elas Taiaçupeba e Ponte Nova, que podem suprir parte da água caso venha a faltar no Sistema Cantareira. O restante pode ser compensado, em menor escala, pela água que vem do Sistema Guarapiranga, que hoje já abastece São Paulo, acredita.
Plano Diretor
Outra medida do governo do Estado elogiada pelo professor da USP é o Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, elaborado em 2008. Os estudos desse projeto estimam o crescimento da demanda por água, apresentam alternativas para a expansão da oferta e propõem medidas para garantir a sustentabilidade do abastecimento público nos 180 municípios da região até 2035.
De acordo com o Plano Diretor, será necessário um adicional de 60 metros cúbicos de água por segundo para atender a uma demanda de 283 metros cúbicos por segundo em 2035. O valor equivale ao dobro da atual da capacidade do Sistema Cantareira e quatro vezes a do Sistema Guarapiranga.
Em 2008, o governo percebeu que a questão do abastecimento extrapola os limites que delimitam um município e viu a necessidade de abranger todo o território da macrometrópole paulista. Assim, temos um complexo regional, e os mananciais são grandes e sujeitos a regimes diferenciados de chuva. O Estado tem obrigação de ter um conjunto grande e interligado de reservatórios para poder gerenciar situações como a que está acontecendo com o Cantareira, explicou Silva. A gestão de águas urbanas é muito complexa e esse Plano Diretor da Macrometrópole é um avanço para dar conta dessa complexidade, acrescentou.
No entanto, ele pontua que as ações do governo não serão suficientes sem o apoio da sociedade. A população precisa ter consciência do tamanho do problema para não desperdiçar água, mesmo o Estado dispondo de meios técnicos para garantir sempre o abastecimento das necessidades básicas. Assim, é possível passar pela crise de uma forma boa. (Katia Kazedani)
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(19/05/2014 – 12:00)