A Comissão Extraordinária de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania realizou nesta quinta-feira (25/11) uma Audiência Pública que discutiu a saúde da população negra. A audiência foi proposta pela presidente da Comissão, vereadora Erika Hilton (PSOL) e contou com a presença de especialistas, representantes da sociedade civil e de entidades que atuam na defesa da população negra.
O debate teve início com a fala da vice-presidente da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade, Amanda Arlete Ribeiro Firmino. Ela apresentou alguns dados que revelam o abismo social que existe no acesso à saúde entre a população negra e branca. Segundo ela, 74,8% da população branca foi a uma consulta médica nos últimos 12 meses, enquanto o número de negros e pardos foi de 69,5% e 67,8%, respectivamente.
Com relação as gestantes, 84,9% das mulheres brancas fizeram um pré-natal adequado. Já com relação as gestantes negras essa porcentagem cai para 69,8%. Número que justifica a alta mortalidade de mulheres negras grávidas, que segundo Amanda, é de 65,93%, enquanto que nas mulheres brancas esta porcentagem é de 30,14%.
Para Amanda, o SUS (Sistema Único de Saúde) precisa se tornar ainda mais democrático quando se fala no acesso da população negra ao sistema. “A gente precisa lembrar dos princípios doutrinários do SUS: a universalidade, a integralidade e a equidade. Porque a saúde é um direito de todos e é preciso tratar diferente as pessoas diferentes. Daí a importância de se trabalhar as políticas afirmativas”, afirmou ela.
A enfermeira especialista em enfermagem obstétrica, Paula Vieira, chamou a atenção para a violência obstétrica praticada com maior intensidade nas gestantes não brancas. “Mulheres negras, elas são mais impactadas pela violência obstétrica. Em determinados procedimentos dolorosos, por exemplo, a gestante negra chega a não receber anestesia justamente pelo mito de que essas mulheres são mais resistentes a dor e por possuírem quadris mais largos são consideradas parideiras por excelência.”, disse Paula.
Quando se fala no tratamento da população negra vítima de doenças falciformes o preconceito é ainda maior, segundo a coordenadora legal da APROFe (Associação Pró-Falcêmicos), Sheila Ventura Pereira. “Para aqueles com doenças falciformes que geram dores terríveis por todo o corpo, o atendimento acaba sendo muito sofrido fisicamente e psicologicamente. Existe o preconceito dos profissionais que muitas vezes nos taxam de viciados por precisamos constantemente apelarmos pro uso da morfina ou nos deixam por horas esperando atendimento, simplesmente por não acreditarem no nível de dor que estamos sentindo”, afirmou Sheila.
A vereadora Erika Hilton (PSOL) ressaltou a necessidade da Câmara se aprofundar nesse assunto e discutir formas de ampliar o acesso da população negra e acabar com o preconceito contra a mesma no sistema de saúde da capital. “É preciso que esta Comissão investigue, analise, chame um grupo de estudo, desenvolva relatórios pra que a gente possa enfrentar essa realidade e destruir essa triste marca. Então eu acho que esses podem ser futuros passos que a Comissão vai desenvolver no enfrentamento dessa problemática”, disse a parlamentar.
A Audiência Pública desta quinta-feira, que pode ser conferida aqui, foi conduzida pela presidente da Comissão, vereadora Erika Hilton (PSOL), e contou com a participação dos vereadores Cris Monteiro (NOVO) e Eduardo Suplicy (PT).