Nesta segunda-feira (18/9), foi realizado na Câmara Municipal de São Paulo o seminário “Setembro Amarelo – Saúde Mental, Trabalho e Capital”. O evento, promovido pela vereadora Jussara Basso (PSOL), é mais uma das ações da campanha de conscientização sobre prevenção ao suicídio, conhecida como Setembro Amarelo, e contou com a participação de representantes do direito trabalhista, de saúde mental, da classe política e ativistas da área.
Neste ano o tema é “Se precisar, peça ajuda!” e, globalmente, a ação visa chamar a atenção para a importância da discussão e promoção de ações sobre o suicídio, ainda mais frente ao atual cenário: segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), todos os anos são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. O número pode chegar a um milhão de casos anualmente, uma vez que há os chamados episódios subnotificados.
A situação não é diferente no Brasil. Dados oficiais dão conta de que, no país, ocorrem 14 mil suicídios por ano – uma média de 38 casos por dia. Além disso, de 2010 e 2019, cerca de 112,2 mil mortes por suicídio foram registradas em solo brasileiro.
Responsável pelo seminário, a vereadora Jussara Basso destacou a possibilidade de, a partir do debate, serem apresentadas sugestões para a melhoria do atendimento voltado à saúde mental na capital. “A importância de você debater um tema ligado à saúde pública, mas que também diz respeito especificamente à saúde mental, é apontar as deficiências que nós temos neste atendimento”, pontuou.
“Nós temos 102 unidades de CAPS (Centros de Acolhimento Psicossocial) no município. Isso significa que o déficit é imenso. Quando você percebe regiões como a chamada Cracolândia e pessoas cometendo crimes contra a sua própria vida, você percebe que realmente estamos precisando melhorar o atendimento de saúde mental. E também diz respeito à saúde mental, à moradia digna, à empregabilidade, à mobilidade urbana”, completou Jussara, ressaltando que os impactos são potencializados na saúde mental das mulheres, pois elas, muitas vezes, têm jornada dupla e são as responsáveis pela gestão doméstica.
Presidente da Frente Parlamentar em Promoção da Saúde Mental do Congresso, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) lembrou a importância de se pensar políticas públicas voltadas à prevenção ao suicídio e aos cuidados com a saúde mental. “Quando falamos de saúde mental como um todo, nossa primeira barreira sempre vai ser o tabu”, afirmou.
“Lá no Congresso Nacional, e aqui em São Paulo também, temos que lutar por psicólogo nas escolas, por reconhecimento dessa pauta, por mais financiamento, por mais acesso. Mas não vamos conseguir acessar nenhuma dessas pautas se não enfrentarmos o tabu que existe. O primeiro passo é esse, é falar, é dizer que depressão não é ‘mimimi’, é dizer que temos que trazer acolhimento, seriedade, ciência. Então, fazer o que estamos fazendo aqui, juntando diferentes áreas para fazer um debate, é o primeiro passo para que a política seja chacoalhada e possa ser chamada à sua responsabilidade”, refletiu Tabata.
Mediadora da atividade, a advogada Mariana Serrano, do MATI (Movimento da Advocacia Trabalhista Independente), demonstrou preocupação, do ponto de vista jurídico, com a saúde mental da classe trabalhadora, em especial a possível relação entre a pressão do trabalho e a produção capitalista na sociedade. “Nós atendemos e advogamos para pessoas, para a classe trabalhadora, e essas pessoas chegam adoecidas para o nosso cuidado e para o nosso atendimento”, disse.
“Essa situação da saúde mental dessas pessoas tem relação com as estruturas de trabalho da nossa sociedade hoje em dia? Esses números que foram abordados, esses dados, essas colocações podem dizer que existe uma relação entre a nossa forma de produção capitalista enquanto sociedade, e a forma que as pessoas são cobradas dentro do seu trabalho, do seu dia a dia?”, questionou Mariana.
Já a psicóloga Cris Lopes, coordenadora do Fórum Nacional de Prevenção e Posvenção ao Suicídio nas Universidades e Escolas, alertou para o aumento de casos entre jovens. “Depois da pandemia, o Brasil estourou em níveis de incidência de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos. Nós superamos o Japão”, apontou.
Ela também analisou como a situação se desenvolveu nos diferentes níveis de ensino. “Nas universidades, o aumento do suicídio está associado aos cotistas. As pessoas, que já são de alguma maneira discriminadas, quando adentram o espaço onde não se reconhecem, precisam de políticas de pertencimento, de permanência. Não basta você abrir uma porta se, dentro, você não se reconhece como a tua casa, com os teus iguais. Esse é um aspecto entre negros, negras e indígenas. É algo para observarmos, como as políticas públicas podem trabalhar nessa direção”, ponderou a psicóloga.
“Já nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, aumentou sobremaneira não só a ideação, como as tentativas de suicídio e os suicídios que vão a cabo, e que, na verdade, têm a ver com todo um ambiente de violência”, refletiu. “Esse clima de muito ódio precisa ser enfrentado com políticas públicas de muito amor. É essa ideia. A escola precisa de rodas de conversa onde a criançada possa dizer o que está sentindo, possa falar das suas dores, possa falar das desigualdades que ela vive fora da escola e que a escola tem que se ocupar dela. Quando a palavra circula, circula a possibilidade de vida”, concluiu Cris.
A íntegra do seminário pode ser conferida no vídeo abaixo: