Reciclar resíduos orgânicos, como restos de alimentos e de capinação, também é possível, ainda que o reaproveitamento do chamado “lixo seco”, caso dos plásticos e papelões, seja bem mais frequente. Estima-se que metade das 20 mil toneladas de lixo descartadas diariamente na cidade de São Paulo seja de resíduos orgânicos aptos a passar pelo processo de compostagem.
O assunto foi debatido durante o Seminário “Compostagem Urbana – Porque o Orgânico também é Reciclável”, realizado nesta segunda-feira (22/10), na Câmara Municipal, para a apresentação de soluções de políticas públicas para os resíduos serem reciclados ao invés de ir para aterros sanitários.
Em linhas gerais, a compostagem acelera a decomposição de materiais orgânicos com o objetivo de conseguir um material estável, do ponto de vista bioquímico, chamado composto, que depois pode ser utilizado como fertilizante natural na agricultura.
A vereadora Soninha (PPS), proponente do evento, apesar de defender a reciclagem há 30 anos, admite que, em sua atuação pública, não tratou com a mesma ênfase do processo de reciclagem de orgânicos, que também devem ter coleta, destinação e processamento diferenciados para se tornarem matéria-prima.
“A sociedade civil consegue fazer a sua parte e já existe mercado para isso. Mas o Estado precisa determinar que a iniciativa, a partir de um determinado momento, deixe de ser apenas experimental ou questão de boa vontade. Precisa transformar em norma, criar condições legais, estabelecer regras técnicas e tributárias, transformando em política pública”, defendeu a vereadora.
Engenheiro ambiental da Morada da Floresta, empresa privada que trabalha com projetos ambientais, Victor Hugo Argentino de Morais Vieira fez uma palestra sobre os princípios e técnicas de compostagem, tanto para o cidadão compostar o resíduo dentro de casa, com minhocários domésticos, até projetos e estratégias para as prefeituras destinarem corretamente os resíduos orgânicos com compostagem na escola e em pátios próprios.
Segundo Vieira, atualmente os custos da compostagem estão muito abaixo do aterro sanitário ou de alternativas que sequer destinam o resíduo ambientalmente. “Basicamente não é necessária uma grande infraestrutura nem custo de manutenção de um pátio. Além disso, gera muito mais emprego em toda a cadeia de trabalho, pela necessidade de mais operadores no pátio de compostagem do que no aterro, que é normalmente operado por máquinas”, ressaltou.
Vieira também lembrou que, ao final desse processo, há outra vantagem, que é a produção de um adubo que incentiva uma cadeia de produção agrícola, no geral descentralizada, de caráter familiar e que tem potencial de gerar muitos benefícios.
Rafael Golin, coordenador de Resíduos Orgânicos da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (AMLURB), órgão ligado à Prefeitura de São Paulo, lembrou que em breve a cidade deverá ter dois locais em que o lixo orgânico é reciclado. Um pátio já foi inaugurado na Sé – e outro deverá entrar em operação até o fim deste mês, na Mooca. Outras duas áreas estão previstas para operar até o fim de 2018 na Zona Leste.
“Esses pátios são muito importantes porque o resíduo orgânico no aterro produz a emissão de gases do efeito estufa. Além da utilização do adubo produzido, para o plantio de árvores, mesmo em praças, ou pela população nas casas e em hortas comunitárias, e até para a agricultura urbana”, explicou.