A necessidade de projetos de educação para chamar a importância sobre o descarte correto de filtros de cigarro foi a principal conclusão dos participantes do Seminário sobre Bitucas de Cigarro – Cenários, Problemas e Soluções, realizado nesta sexta-feira (22/11), na Câmara Municipal. Organizado pela Comissão Extraordinária de Meio Ambiente e Direito dos Animais, o evento foi iniciativa da vereadora Soninha Francine (CIDADANIA).
Foram realizadas duas mesas de discussões durante o período do evento. A primeira delas teve como tema os problemas e impactos socioambientais decorrentes do descarte impróprio de bitucas.
Segundo Natália Zafra Goettlicher, idealizadora do movimento Mundo Sem Bitucas, em 2019 a instituição recolheu mais de 69 mil bitucas nas ruas. “Em uma ação que fizemos, apenas no vão do Masp, na avenida Paulista, 25 pessoas conseguiram recolher 11 mil bitucas em 60 minutos”, afirmou Natália. Segundo pesquisa apresentada por ela, a poluição de duas bitucas na água equivale à contaminação de um litro de esgoto.
Leonardo Saes, representante da organização Ecosurf, parceira da ONU (Organização das Nações Unidas), falou sobre a campanha Mares Limpos. Em uma semana, o movimento coletou 50 mil bitucas, equivalentes a 24 quilos de resíduos. “É muito importante que as casas de leis discutam ações que sirvam para inibir esse descarte, como esta iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo”, comentou Saes.
Matéria-prima do papel
Houve ainda duas participações por vídeo, da pesquisadora Mônica Ferreira, da Universidade Federal de Pernambuco, e da pesquisadora Thérèse Hofman, da Universidade de Brasília. Thérèse demonstrou a experiência da transformação das bitucas em papel reciclado, para confecção de produtos de papelaria. Segundo as pesquisadores, 95% da composição de uma bituca é acetato de celulose, matéria-prima do papel.
A segunda mesa discutiu de quem é a responsabilidade, se há leis para fiscalizar o problema, qual a contribuição de cada setor envolvido. Ane Elise Nicolai, a primeira a falar sobre o assunto, explicou que ela atua em uma empresa privada que criou um projeto para a elaboração de caixas coletoras específicas para o descarte correto, feita em aço galvanizado, com capacidade para coletar 900 bitucas por unidade.
Márcia Metran, representante da AMLURB (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), apresentou dados sobre a coleta dos resíduos no município e também sobre o serviço de varrição. Márcia reforçou a necessidade de educação da população sobre a gravidade do descarte incorreto do filtro do cigarro. “O sistema de coleta de resíduos, por mais bem estruturado que seja, não funciona se não tiver a colaboração do cidadão”, explicou ela.
Representando a ABIFUMO (Associação Brasileira da Indústria do Fumo), Regina Maia também endossou o discurso por mais ações de conscientização. “O filtro obedece às normas regulatórias do grau permitido de ingestão de nicotina e outras milhares de substâncias químicas. Existem alguns estudos para confecção de bitucas biodegradáveis, mas ainda não há comprovação da eficácia, muito menos regulamentação para elas”, explicou Regina.
Segundo a representante da ABIFUMO, as empresas que realizam a correta destinação final e processamento das bitucas ainda recebem quantidade de resíduos menor do que têm capacidade para processar, justamente por conta do descarte incorreto.
Descarte pelas ruas e calçadas
O vereador Eliseu Gabriel (PSB) comentou os efeitos de lei de sua autoria que obriga bares, restaurantes e universidades a ter caixas coletoras nos ambientes destinados aos fumantes. “Quando houve a proibição em São Paulo do fumo em locais fechados, os fumantes foram para a rua, começaram a descartar a bituca em qualquer lugar. Agora estamos buscando aumentar a fiscalização do seu cumprimento”, explicou.
Para o presidente da Comissão Extraordinária de Meio Ambiente e Direito dos Animais, vereador Xexéu Tripoli (PV), a discussão é importante porque a bituca é o lixo mais encontrado nas ruas do país. “Se você andar por uma quadra procurando e coletando, vai recolher milhares delas. Um dos mais poluentes, também”, disse Tripoli, mencionando cidades na Europa e nas Américas que deram solução a esse problema.
Para a vereadora Soninha Francine (Cidadania), a solução começa pela conscientização de que a bituca não vai se degradar na natureza. “Gente que não se desfaz de outros tipos de lixo na rua, se desfaz de uma bituca no chão com a maior naturalidade. Esse é o primeiro passo. Em seguida, conseguir criar um sistema de coleta específica para esse tipo de resíduo, e outras utilizações depois do descarte”, defendeu Soninha.