Nesta terça-feira (19/11), dezenas de mulheres e militantes do movimento feminista participaram de seminário, realizado na Câmara Municipal de São Paulo, para discutir a obra da socióloga brasileira Heleieth Saffioti (1934-2010). O debate se concentrou em um de seus primeiros trabalhos: A mulher na sociedade de classes – Mito e Realidade, livro publicado em 1969. A realização do seminário contou com o apoio da vereadora Juliana Cardoso (PT).
Nascida em Ibirá (SP), Heleieth Saffioti foi pioneira nos estudos sobre a violência relacionada a gênero e o feminismo no Brasil. Sua produção acadêmica e literária se tornou referência para as pesquisas de gênero da atualidade, em especial, pela abordagem da exploração feminina em sociedades capitalistas, sem deixar de analisar também questões históricas, políticas e culturais.
Uma das palestrantes, Amelinha Telles, da União de Mulheres de São Paulo, compartilhou experiências pessoais e ensinamentos da socióloga, destacando a ousadia e determinação da socióloga, que se dedicou aos estudos sobre a condição da mulher no Brasil, mesmo durante o período da ditadura militar.
“Heleieth nos ensinou a autonomia e independência, para pensar e agir. Estudou a situação da mulher em uma época sem muitos movimentos feministas. Se tivéssemos compreendido sua obra naquela época, o feminismo teria avançado muito mais nas camadas populares”, disse Amelinha, enfatizando a necessidade de fortalecer o pensamento de Heleieth no atual cenário brasileiro.
Ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci reforçou a importância das contribuições da socióloga para os movimentos feministas. E contou como a dedicação de Heleieth foi fundamental para o ambiente acadêmico acolher pesquisas sobre gênero.
“O trabalho da Heleieth foi essencial para que nós, pesquisadores, conseguíssemos que a CAPES [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] incluísse a linha Mulher, Sexo e Raça no seu rol de pesquisas”, explicou Eleonora, acrescentando que a reivindicação resultou na linha de estudos de gênero, como hoje é conhecida.
Para Renata Gonçalves, professora e coordenadora do Núcleo de Estudos Heleieth Saffioti da USP (Universidade Federal de São Paulo), a obra da socióloga tem sido cada vez mais consultada e utilizada nas produções das universidades brasileiras. “Há teses sendo elaboradas na UNESP e UFSCar, por exemplo, que estão utilizando o trabalho de Heleieth como referência para seus estudos sobre a mulher”, afirmou Renata, que mencionou pesquisas em outros estados, como Bahia, Maranhão e Pará. Na avaliação da professora, essas iniciativas demonstram a atualidade da obra de Saffioti.
Para a vereadora Juliana Cardoso, discutir a herança de Heleieth Saffioti significa, sobretudo, pensar em formas de combater a violência contra as mulheres. “Realizar um seminário para debater uma obra que completa 50 anos, sobre uma luta que começou há muito tempo, que é o combate à discriminação do corpo da mulher e pela emancipação feminina, nos leva a refletir sobre o nosso momento atual, em que as mulheres continuam sendo vítimas de violência”, argumentou Juliana.