Novas propostas de abordagens educacionais foram debatidas durante o I Seminário Internacional de Aprendizagem Solidária, realizado nesta sexta-feira (29/3), na Câmara Municipal de São Paulo. Uma iniciativa promovida pela Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária,o simpósio teve como objetivo promover princípios que desenvolvam a formação educacional de crianças e adolescentes.
O seminário apresentou aos participantes um histórico da aprendizagem solidária, concepção pedagógica surgida no início do século XX para o desenvolvimento integral das pessoas a partir dos vínculos com suas cidades, territórios e comunidades. Com projetos de intervenção social propostos pelos estudantes, essa estratégia de ensino se pauta pelas reais necessidades das comunidades. Também foram discutidas, em três mesas temáticas, teorias e práticas pedagógicas, de intervenção social, educação integral, juventude, territórios e currículo-base de educação.
Criada no final de 2017, a Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária articula, atualmente, mais de 90 Organizações Sociais e instituições públicas e privadas de ensino, voltadas ao estudo e à difusão desse modelo de educação. Miguel Thompson, diretor-executivo do Instituto Singularidades, um dos organizadores do evento, considera que a aprendizagem solidária ajude a devolver o protagonismo social da escola, que passaria a liderar territórios, espaços ou município. “Solidário aqui é você pegar os modelos e currículos escolares e, junto com um pedido da comunidade para resolução de problemas, propor soluções viáveis à realidade daquele local”, pontuou Thompson.
Um dos palestrantes do seminário, Enrique Ochoa é diretor-executivo do CLAYSS (Centro Latinoamericano de Aprendizaje y Servicio Solidario), organização sediada em Buenos Aires, na Argentina, que atua no Brasil há mais de 10 anos, em parceria com ONGs, universidades e centros de estudos.Ochoa destacou a necessidade de repensar os processos educacionais sob uma ótica social. E ressaltou a importância da integração brasileira na rede ibero-americana de aprendizagem solidária. “Esta é uma iniciativa muito particular na América Latina, pois nossas sociedades ainda são muito desiguais. E nossos sistemas de ensino têm que apresentar uma resposta, por meio da formação e qualificação de jovens, para resolver essa problemática. Somar o Brasil a essa rede tem enorme potencial de atender esse objetivo”, disse o diretor-executivo do CLAYSS.
Ao falar sobre cooperação internacional em aprendizagem solidária, Raphael Callou, diretor da OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos) no Brasil, explicou que a instituição atua na integração do país desde a criação da Rede Brasileira de Aprendizagem Solidária, em 2017. “No âmbito regional, nossos escritórios na Argentina e Uruguai já participavam da Rede Ibero-americana de Aprendizagem Solidária com uma série de projetos que reforçam a importância do território e da escola nesse contexto transformador. E a participação do Brasil é essencial para a formação dessa rede de proteção à educação”, afirmou Callou.
A diretora-executiva do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), Mônica Gardelli Franco, destacou o potencial agregador do evento. “O seminário trouxe o tema solidariedade, que às vezes é discutido numa perspectiva de assistencialismo, e o reposicionou como uma referência de ação dentro da escola. E como uma forma de aprendizagem e desenvolvimento, em conjunto com a sociedade”, disse Mônica.
Para o vereador José Police Neto (PSD), propositor do evento, é necessário que, além de corrigir os erros cometidos, sejam projetados avanços reais no processo educacional, através de propostas inovadoras. Daí a importância do seminário. “É necessário superar o isolamento da educação, que durante os últimos 25 anos tornou-se muito técnica e fez com que parte da sociedade deixasse de participar dos conselhos e afastasse as famílias das escolas”, analisou o vereador.
Para Police Neto, a Rede de Aprendizagem Solidária e o evento desempenham papel fundamental na socialização do conhecimento. “Acho que o seminário cumpre uma finalidade de questionar como é possível envolver a sociedade, de novo, nas tarefas de socialização do conhecimento”, afirmou.