“A tarde morria! Nas águas barrentas. As sombras das margens deitavam-se longas. Na esguia atalaia das árvores secas. Ouvia-se um triste chorar de arapongas”. O trecho do poema “Crepúsculo Sertanejo”, de Castro Alves, retrata bem o espírito do caipira: a melancolia e a ligação de alma com a natureza. E não é à toa que a música de raiz é um dos maiores expoentes da cultura regional brasileira.
Na história há relatos de menções à música rural desde a época do Brasil Colônia. Mas foi na primeira metade do século 20 que ela se tornou um estilo musical propriamente dito, a partir do surgimento da dupla Mariano e Caçula, considerada a primeira a gravar um disco.
De lá para cá, alguns nomes entraram definitivamente para o hall da fama sertanejo: Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho e Tião Carreiro e Pardinho, só para citar os mais lembrados. Pardinho, aliás, motivou a Câmara de São Paulo a escolher o dia 14 de agosto, data do seu nascimento, como o Dia Municipal da Música de Raiz, comemorado nesta quinta-feira (14/9) no Salão Nobre do Palácio Anchieta. O autor da Lei, vereador Eliseu Gabriel (PSB), ressaltou a importância do evento.
“Tem tudo a ver com o povo brasileiro. Tem a ver com nossa história, com a viola, que chegou ao país na época do Descobrimento. E é tão interessante isso que até quem não está acostumado com a música caipira, quando ouve, se sente tocado. Porque tem algo nela, ligado à nossa raiz, que fala com a gente. Então é muito importante numa cidade tão cheia de cimento, fazer essa homenagem à nossa cultura que veio do campo”, destacou o parlamentar.
Ainda falando de história, a dupla Liu e Léo também ajudou a contribuir com o início da trajetória bem sucedida da música caipira. Léo foi um dos homenageados da noite. Para ele, apesar de ter saído dos holofotes da mídia, a música de raiz jamais vai acabar.
“Outro dia me perguntaram se a música caipira mudou. E eu respondi que não. Ela continua a mesma. Houve uma mudança envolvendo a música sertaneja moderna. Mas o ritmo de raiz, aquele que conta histórias, a moda de viola, esse é o mesmo e deve continuar assim”.
A convicção de Léo pode ser confirmada pelos irmãos Luís Gustavo e Luís Augusto, representantes autênticos da nova geração. Na casa dos 20 anos de idade, eles contam que a paixão pela música de raiz começou bem mais cedo.
“A gente começou com seis e sete anos de idade. Fomos influenciados pelo nosso pai, sempre ouvindo os grandes sucessos”, disse Augusto.
“Para nós, a música de raiz nunca vai sair de moda. O pessoal continua escutando. É uma música que fala da cultura do interior. Além das novas composições, as antigas ainda são as mais cantadas até hoje”, ressaltou Gustavo.