Os negros não estão representados na política brasileira. É o que disse o cientista social Osmar Teixeira Gaspar nesta quinta-feira (5/10) durante um evento realizado pelo MMNB (Movimento da Mulher Negra Brasileira) na Câmara Municipal de São Paulo.
Autor da tese de doutorado “Direitos Políticos e Representatividade da população negra na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e Câmara Municipal de São Paulo”, Gaspar argumentou que “a baixa representatividade dos negros na política é um contrassenso em relação aos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)”. De acordo com o estudo, 54% da população se autodeclaram negra, mas, por exemplo, apenas quatro dos 94 deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo são negros.
A história do Brasil é um dos motivos apresentados por Gaspar para justificar essa baixa representatividade. “Não podemos deixar de considerar o longo período de escravização da população negra como parte responsável por essa sub-representação”, disse.
O cientista social desafiou os participantes a tirarem foto de todas as casas legislativas brasileiras para perceberem a situação. “A maioria dos eleitos é branco e debates em espaços como esses são uma questão de pluralidade, onde várias correntes poderão opinar e oferecer soluções pacíficas e consensuais para resolver esse impasse”, argumentou.
Em sua tese, Gaspar defende que uma das soluções seria a criação de cotas dentro das casas legislativas para parlamentares negros e negras. “Não basta a garantia de que a população negra tenha a sua participação em pleitos garantida, mas também a efetiva participação no processo de decisão nas câmaras e assembleias, assim como em outras instâncias”, esclareceu.
O moderador do debate, o procurador Marco Antonio Zito Alvarenga, concordou. Para ele, não é possível ter “representatividade nas Casas Legislativas” se o eleito desconhece o problema. “É necessário que haja identificação para gerar a discussão. Como o representante pode falar sobre a minha necessidade se ele nunca conviveu ou passou pela mesma situação”, pontuou Alvarenga, referindo-se ao racismo.
A diretora de marketing do MMNB, Fabiana Lima, chamou a atenção para a importância da discussão. “É difícil nos sentirmos representados [na política]. Por isso, quanto mais falarmos sobre o assunto, maior o nível de conscientização das pessoas”, argumentou.
A presidente do MMNB, Diva Zitto, elogiou a discussão. “A população negra não tem acesso a educação em níveis que possam favorecê-la a ingressar nas casas legislativas e por falta de informação. Onde não estamos, não somos vistos”, disse.