O documentário “Vala Comum” do diretor João Godoy resgata a história da abertura da vala clandestina do Cemitério de Perus (Cemitério Municipal Dom Bosco, construído na primeira gestão do prefeito Paulo Salim Maluf) determinada pela prefeita Luiza Erundina em 4 de setembro de 1990. Na referida vala estavam ossadas de vítimas da repressão militar e do Esquadrão da Morte – foram desenterrados 1.049 restos mortais, envolvidos em sacos plásticos.
O filme foi veiculado na reunião extraordinária desta sexta-feira (04/09) da Subcomissão de Direitos Humanos para acompanhar a abertura dos arquivos da ditadura militar no Salão Nobre.
O documentário de 1994 é enriquecido pelos depoimentos, por exemplo, do ex-guerrilheiro Ivan Seixas, filho de Joaquim Seixas, o primeiro preso político a ser enterrado em Perus; e de Egle Vannuchi Leme, mãe de Alexandre Vannuchi Leme, cujos restos mortais também foram localizados no cemitério.
“Esta data é importante para a história da democracia no Brasil. Aquele ato corajoso da prefeita Luiza Erundina continua surtindo efeitos até a presente data”, frisou o vereador Ítalo Cardoso (PT), presidente da Subcomissão.
“Esse vídeo mostra uma realidade que hoje, com a vida democrática consolidada, a gente não consegue imaginar. O vídeo é atual. Continuamos com os arquivos fechados. O que tanto temem se a gente abrir os arquivos?”, questionou o presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (CONDEPE), Ivan Seixas.
Ivan lembrou que o ponto de partida para a instalação da CPI das Ossadas de Perus em 1990 na Câmara Municipal foi uma reportagem do jornalista Caco Barcellos, da TV Globo, que quis saber o que significava a anotação da letra “T” em vermelho nos requerimentos para exame de cadáveres no Instituto Médico Legal (IML). O “T” significava o rótulo de terrorista. A partir daí, novas revelações se seguiram até a descoberta da vala clandestina.
A ex-vereadora Tereza Lajolo, relatora da CPI das Ossadas, também esteve presente à reunião da Subcomissão. “O que nós fizemos foi resgatar a nossa história. A vala não tinha só pessoas que foram torturadas e mortas, tinha também pessoas que morreram por problemas de saúde. Durante a CPI nós fomos ameaçados.”
Compuseram a mesa Ítalo Cardoso, Tereza Lajolo, Ivan Seixas e Josephina Bacariça, ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz e ativista dos direitos humanos.
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