A taquigrafia é a técnica de captar a fala em palavras no menor tempo possível. Apesar da definição aparentemente simples, se trata de uma atividade milenar, complexa, e repleta de métodos. Tudo para garantir a transcrição mais fiel possível da linguagem oral.
Ao longo da história, desde o Império Romano, nos tempos em que uma simples gravação audiovisual sequer era tema de ficção científica, as notas taquigráficas eram a única ferramenta viável e imprescindível para a sobrevivência dos registros oficiais.
Mas em pleno século 21, como é possível a taquigrafia se manter como uma atividade indispensável, especialmente nos órgãos públicos?
Para Alexandre Fonseca, ex-presidente e integrante da União Nacional dos Taquígrafos, a profissão dificilmente se tornará obsoleta.
“Hoje há outros métodos de transformação de texto. Temos, por exemplo, o sistema de reconhecimento de voz, que transforma o que foi falado em texto. Só que a taquigrafia não é tão simples assim. Não é um texto bruto, inclusive passível de erro de interpretação. O taquígrafo tem a habilidade de fazer um registro impecável e bem acabado. O que provavelmente vai acontecer é a taquigrafia migrar aos poucos para aproveitar a inteligência artificial”.
Atualmente, Fonseca é o diretor da Taquigrafia da Câmara Municipal de São Paulo. Nesta quinta-feira (8/2), ele apresentou um censo sobre o setor no Plenário da Casa. De acordo com a pesquisa, que teve como foco as áreas legislativa e judiciária, o Brasil possui mais de mil taquígrafos ativos em órgãos das cinco regiões do País.
“A taquigrafia dá transparência aos trabalhos. Aqui na Câmara de São Paulo, por exemplo, todas as Sessões Plenárias são transcritas, transformadas em atas, e publicadas no Diário Oficial. A função é informar o que está acontecendo para a sociedade. Ao mesmo tempo estamos criando e preservando a memória”, disse o diretor da Taquigrafia da Câmara de São Paulo.
Levantamento
De acordo com os números levantados, com base em 2017, o Brasil dispõe de 1.330 cargos de taquígrafos. Desse total, 868 estão no Poder Legislativo e 462 no Judiciário. O número de taquígrafos ativos, no entanto, é um pouco menor: 1.068 ao todo.
Sob um recorte regional, a maioria atua na região Centro-Oeste (principalmente em Brasília). São 293 funcionários no Legislativo e 266 no Judiciário. Em segundo lugar vem o Sudeste: 222 no Legislativo e 97 no Judiciário.
Alexandre Fonseca também explicou que os números podem estar desfasados em cerca de 30%, já que nem todos responderam ao censo.
“Esperamos resolver isso por meio da Lei de Acesso à Informação. É provável que no próximo levantamento já possamos ter números atualizados e bem mais próximos da realidade”.
“Fizemos um levantamento para organizar e conhecer a profissão. A taquigrafia está em todo o Brasil. Mas é difícil saber qual é a real situação em cada região. Esse trabalho, num primeiro momento, é numérico. Mas depois ele vai servir para identificarmos os colegas e as suas necessidades. É uma questão de organização e troca de informações para tornarmos o nosso trabalho ainda melhor”, disse.
Profissão
Atualmente, a Câmara Municipal de São Paulo conta com um quadro de 23 taquígrafos, mais da metade (13) com nível de ensino superior.
Apesar do número de vagas restrito em comparação a outras profissões, o diretor da taquigrafia acredita que vale a pena entrar na disputa.
“O quadro de taquigrafia é maior do que a quantidade de taquígrafos em exercício. Ou seja, existe uma margem que permite e realização de concursos. E eles ocorrem de uma forma constante. Mas como é uma profissão nacional, as provas acontecem em diferentes cidades. Agora, por exemplo, há concursos ocorrendo em Salvador e Brasília, mas em São Paulo o último foi realizado há dois anos, para a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)”.
Entre os principais atrativos estão os salários, que variam, em média, entre R$ 10 mil e R$ 12 mil na capital paulista. Em cidades menores os valores podem ser mais baixos. Em Brasília, por outro lado, os vencimentos podem até chegar ao teto do funcionalismo público.
Até a realização dos concursos públicos, o diretor da União Nacional dos Taquígrafos aconselha os interessados a procurarem escolas especializadas. “Há ótimas escolas que preparam muito bem, inclusive para os concursos mais concorridos do País”, disse Fonseca.