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Os Satyros, do diretor Rodolfo Vasquez (acima), não conseguiram arcar com o aluguel de um dos espaços que ocupavam
Nos últimos anos, São Paulo viu o nascimento de diversos espaços culturais na região central. Agora, a luta é para que eles permaneçam ali. A companhia de teatro Os Satyros, com sede na praça Roosevelt, teve que fechar uma de suas salas no ano passado por conta do alto preço do aluguel. Não deu para continuar com o Satyros II e quem sai perdendo com isso é a população, lamenta Rodolfo Vasquez, diretor e um dos fundadores do grupo.
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Os Satyros foram um dos responsáveis pela redescoberta da Roosevelt, quando se instalaram no local, no início dos anos 2000. Na década anterior, a praça era um lugar violento, reduto de travestis, garotas de programa e traficantes de drogas. Hoje, ela é frequentada por artistas e skatistas, com bares funcionando até tarde da noite.
Atualmente, o grupo desembolsa cerca de R$ 6.000 por mês para manter-se no local. Esse valor é reflexo do boom imobiliário que a região da praça tem presenciado nos últimos anos, principalmente depois de sua reforma, entre 2011 e 2012. No entorno surgiram prédios de classe média e o preço do metro quadrado encareceu.
Essa valorização se repete por todo o centro da cidade, ameaçando a sobrevivência de alguns espaços culturais tradicionais, como o Cine Belas Artes, que foi fechado em 2011 e será reaberto neste mês. O Teatro Oficina, por exemplo, resiste há anos contra o assédio do grupo Silvio Santos, que mais de uma vez tentou comprar o espaço para construir um shopping no local.
Para impedir que a valorização imobiliária expulse as atividades culturais da região, o novo Plano Diretor da cidade, aprovado no final de junho pela Câmara, prevê a criação de um território cultural ligando o centro da cidade à Avenida Paulista. Nesse perímetro, os espaços culturais poderão receber benefícios a serem regulamentados por legislação específica, como a isenção de impostos municipais.
Arte: Erica Mansberger
O Plano Diretor também prevê a criação das Zepecs APC (Zonas Especiais de Preservação Cultural – Área de Proteção Cultural). Um imóvel classificado como Zepec, além de benefícios fiscais, poderá usufruir da tranferência de pontencial construtivo. Isso significa que o proprietário terá o direito de construir um imóvel maior em outro local com a condição de preservar o uso cultural daquele declarado como Zepec.
Um dos coletivos que espera se aproveitar desses benefícios é a companhia teatral O Grito. Em processo de renovação do contrato de locação do imóvel que ocupa no bairro do Bexiga, o grupo chegou a um acordo com o proprietário para ficar no espaço por mais dois anos, a um custo de R$ 3.300 mensais, somado aí o IPTU. Para arcar com o valor, os membros da trupe estão em busca de outros coletivos para dividir os gastos.
Acho importante uma área de preservação cultural porque há uma demanda muito grande de grupos de teatro, artistas plásticos, entre outros, por espaços que possam ser geridos por eles mesmos, afirma Roberto Moretto, diretor do grupo. (Rafael Carneiro da Cunha)
Entrevista: Nabil Bonduki Renattodsousa / CMSP
O Portal da Câmara Municipal conversou com o vereador Nabil Bonduk (PT), relator do Plano Diretor na Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, sobre os territórios culturais. Confira: Qual é a diferença entre o território cultural e a Zepec APC?
Que benefícios fiscais poderá ter uma Zepec APC?
Como bairros da periferia, como a Cidade Tiradentes, que tem uma efervescência cultural, podem se tornar um território cultural?
Houve contribuição de movimentos culturais para a inclusão do território cultural e da Zepec APC no texto do PDE? |
(16/07/2014 – 09h00)