A Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente realizou, na manhã deste sábado (12/8), Audiência Pública sobre a criação de uma Usina Eco-Cultural no espaço onde funcionava o Incinerador Vergueiro, no bairro do Ipiranga. O debate aconteceu na Escola Estadual Coronel Raul Humaitá Villa Nova, bairro do Cursino, zona sul da capital, e atendeu a um requerimento da vereadora Silvia da Bancada Feminista (PSOL).
Representantes de entidades sociais e culturais que atuam no bairro do Ipiranga e moradores da região participaram da audiência. Todos a favor da instalação de um espaço cultural e ambiental no prédio do antigo incinerador de lixo, que foi inaugurado em 1968 com o objetivo de queimar todo lixo hospitalar da cidade o que gerou por anos um grande incômodo para a população local. Para se ter uma ideia, até os anos 2000 eram queimados diariamente 50 toneladas de lixo por dia, até que na mesma época, depois de muita reivindicação dos moradores, o incinerador foi finalmente desativado.
Desde então, o espaço permanece sem utilização, o que estimulou moradores do entorno a debaterem sobre a melhor ocupação do equipamento. Daí nasceu o Movimento Usina Eco-Cultural, que pretende transformar o antigo incinerador em centro cultural e ambiental. A representante do movimento, Débora Machado, deu mais detalhes do projeto. “Nossa proposta é muito clara de que o edifício se tornou um museu do meio ambiente e que toda a área do entorno seja um polo cultural com atividades de esporte e bem-estar, se tornando um ponto de encontro da cidade”, disse ela.
O local se mantém fechado há mais de 20 anos também porque, segundo algumas entidades que atuam na região, a Prefeitura alega que o espaço possui o solo contaminado. Mas de acordo com a representante do Cades (Conselho Regional De Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultural de Paz) do Ipiranga, essa explicação não convence. “O pátio da Usina é uma extensão da rua e por isso mesmo não há nenhuma contaminação além do que já tem nessa região que nos impeça de utilizar a área. Mas a contaminação do solo precisa ser investigada e descontaminada, se for o caso, pela Prefeitura que é a responsável pela área”, afirmou Suzy.
A arquiteta e urbanista Karina Saccomanno participou do encontro e ressaltou a contribuição que a transformação de espaços abandonados em equipamentos públicos de lazer, como o antigo incinerador do Ipiranga, pode trazer para a cidade. “A gente precisa de uma cidade com mais afeto. Daí a necessidade dos bairros terem espaços de preservação e isso tem que ser escolhido pela própria comunidade. Esse lugar do afeto que dita são as pessoas que moram na cidade”, defendeu a arquiteta.
A professora Celina dos Anjos morou na região em dois momentos, quando criança, de 1975 a 1987, e depois, já adulta, voltou para a área em 2015 onde vive até hoje. Na infância, o medo era em relação a saúde por causa da fumaça tóxica emitida pelo incinerador, que funcionava na época. Hoje, o medo é da violência por causa do abandono do prédio. “A região do entorno do prédio do incinerador é escura, não tem iluminação e, principalmente à noite, não tem ocupação, fluxo de pessoas o que nos deixa apreensivos. Tendo um centro cultural ali a situação é bem diferente, melhora pra todo mundo, valoriza ainda mais o bairro”, afirmou Celina.
Para o servidor público Flávio Lopes que mora a menos tempo no bairro, a possível alegação de contaminação do solo feita pela Prefeitura da capital a representantes de movimentos sociais da região não pode ser um fator de impedimento para ocupação daquele espaço. “Defendemos a ocupação de todo aquele prédio como centro cultural e de lazer do Ipiranga, porque um equipamento daquele porte, com um terreno grande, não pode ficar abandonado como está. Que haja esse trabalho de descontaminação do local, por parte da Prefeitura, em paralelo com a ocupação do espaço pelos moradores da região ao mesmo tempo”, disse ele.
A vereadora Silvia da Bancada Feminista, que presidiu a audiência, ficou satisfeita com a participação dos moradores, mas ressaltou que foi apenas o início deste debate sobre a criação da Usina Eco-Cultural. “Essa discussão não termina aqui, porque agora nós precisamos que o Poder Executivo se sensibilize. Não é possível que diante de tantas demonstrações de apoio ao projeto, por parte da população desta região, ele continue fingindo que não tem nada a ver com isso. É preciso acatar o que a maioria quer, isso é democracia”, reforçou a parlamentar.
A Audiência Pública deste sábado pode ser conferida na íntegra no vídeo abaixo: