O Brasil ocupa apenas a 154ª posição no ranking internacional sobre a participação da mulher no Legislativo. Segundo levantamento da União Interparlamentar, dos 594 deputados federais e senadores, apenas 67 são mulheres. O número representa 11% das cadeiras.
Já no caso das Câmaras Municipais, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), houve um aumento tímido nas últimas eleições, em 2016: de 11,33% para 13,51%.
Diante dos dados, que reforçam a histórica desigualdade de gênero no país, a Câmara de São Paulo realizou um seminário nesta terça-feira (29/8) para aprofundar o debate sobre o tema.
Em um comparativo das duas últimas eleições na cidade, o Legislativo Paulistano mais que dobrou a representatividade feminina na Casa: de cinco para onze cadeiras. Por outro lado, a diretora-executiva da Escola do Parlamento, Ilza Jorge, responsável pelo curso, ressaltou que o resultado ainda está aquém do almejado.
“É importante considerar esse aumento. São Paulo deu um salto em comparação aos dados que a gente vê no Brasil. Mas ainda não é suficiente. Como a principal cidade do País, poderia ter uma representatividade muito maior”, avaliou.
A palestra contou com a participação das vereadoras Sâmia Bonfim (PSOL) e Patrícia Bezerra (PSDB). Elas abordaram o tema ‘A mulher na prática política parlamentar: constatações e desafios’.
De partidos diferentes, elas até podem não chegar a um consenso sobre todos os assuntos, mas são enfáticas ao concordar com um aspecto em especial: a dificuldade de ser mulher em um ambiente historicamente masculino.
“Quando você chega aqui, você é tratada como ‘café com leite’. Comissões importantes como a de Constituição e Justiça ou de Finanças, por exemplo, nunca foram presididas por mulheres. A própria Câmara, aliás, jamais teve uma mulher na Presidência. O dia em que isso acontecer, aí sim a gente vai poder falar em paridade”, disse Patrícia.
Sâmia, que está em seu primeiro mandato, também relatou que já sentiu na pele o preconceito por ser jovem e, principalmente, mulher.
“Não é fácil porque há muito machismo. Os homens não estão acostumados com mulheres em posição de poder. Às vezes, talvez até inconscientemente, muitos sequer consideram nossa opinião válida como a dos outros vereadores. Então é um desafio diário. Mas eu acho muito importante a gente estar aqui e mostrar às mulheres que é sim possível conquistar seu espaço”, afirmou.
Segunda aula
O Seminário ‘Mulheres na Política – entre Estudos e a Prática’, promovido pela Escola do Parlamento da Câmara, terá uma segunda parte nesta quinta-feira (31/8). O curso contará com a presença de três especialistas:
Marina Merlo, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e pesquisadora associada do Núcleo de Instituições Políticas e Eleições do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (NIPE/CEBRAP).
Também participa Hannah Maruci Aflalo, mestranda em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Grupo de Estudos de Gênero e Política (GEPÔ).
Tatiana Ribeiral, doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora na área de direitos políticos e cidadania (em especial, política comparada – Brasil e México) é mais uma das convidadas.