À esq., o capitão do Exército Darcy Rodrigues fala aos vereadores da Comissão da Verdade Foto: Luiz França / CMSP
Preso no Vale do Ribeira em 1970 por agentes da ditadura, o capitão do Exército Darcy Rodrigues contou nesta terça-feira (23/9) à Comissão da Verdade Vladimir Herzog que ele ficou sem comer durante dez dias e sendo torturado de manhã, à tarde e à noite durante os meses em que ficou preso. O fato de fazer parte da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) organização contrária ao regime militar – foi um dos motivos que o levaram à prisão.
Qualquer opositor que caísse nas mãos da repressão seria torturado com certeza, afirmou Rodrigues. Por estar em um local que não tinha condições de manter pessoas presas, relembrou o capitão, ele foi amarrado em estacas no chão. Por dez dias fiquei com os braços e pernas abertas amarrados nesses locais, tomando sol, chuva e sereno. Nesse período, antes de ser levado para o Doi-Codi (centro de repressão do Exército durante a ditadura) fiquei sem tomar água e sem comer, detalhou.
Após ser levado para o Doi-Codi, as torturas continuaram diariamente. Tomávamos choques, nos penduravam no pau de arara, nos batiam com chibatas e nos espancavam. Só podiam ser animais para fazerem isso, porque eles atacavam pessoas amarradas e indefesas, declarou Rodrigues.
Entre os comandantes da VPR estava Carlos Lamarca, capitão do Exército Brasileiro que desertou em 1969, amigo pessoal de Rodrigues. Além de ser opositor ao regime, eu era ex-militar, companheiro do Lamarca e militava pela VPR. Tudo isso era um agravante para que fosse ainda mais torturado, explicou.
Além de Rodrigues, no Doi-Codi estavam outros 40 militantes que só foram soltos após a VPR sequestrar o então embaixador alemão Ehrenfried von Holleben e pedir em troca a libertação dos presos políticos.
O depoimento de Rodrigues é mais uma das evidências que comprovam, de acordo com o presidente da Comissão da Verdade, vereador Natalini (PV), os abusos cometidos durante o regime militar. As forças militares eram muitos superiores aos grupos que eram contrários e eles cometiam atos abomináveis, que é prender, desarmar e torturar de forma bárbara as pessoas, com metodologia nazista, fascista, afirmou. Vamos continuar nosso trabalho e temos muitos assuntos para apresentar no nosso relatório, desse trabalho que fazemos com o objetivo de buscar a verdade, preservar a memória e fazer justiça, disse.
(23/09/2014 15h16)