A ida do vereador Natalini (PV) ao Espírito Santo para entrevistar o ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra marcou o início de uma busca da Comissão da Verdade municipal por depoimentos de agentes do regime. Guerra, segundo ele próprio, “ficava clandestinamente à disposição do escritório do SNI (Sistema Nacional de Informações)” e realizava execuções a pedido do órgão.

Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra  afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. Mesmo para ele a operação era sigilosa. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, explicou. Guerra afirmou, embora soubesse de tudo que acontecia durante a ditadura, nunca torturou ninguém.

Anos depois, Guerra “passou de executor a estrategista”. “Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o país uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, lembrou, assumindo a autoria de uma explosão no jornal O Estado de SP.

Claudio Guerra falou de Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, que,  segundo ele, “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a Irmandade (entidade que financiava a atividade dos militares)”, acusou. Guerra também confirmou que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.

“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.

Sobre as quantias recebidas pela Irmandade, Guerra disse que “recebia por determinadas operações bônus em dinheiro”. As arrecadações, ele afirmou, vinham do Banco Mercantil do Estado de São Paulo e empresas como a Ultragás e a Folha de SP. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS, era amigo pessoal de Fleury”, observou. De acordo com ele, a Irmandade garantiu que até hoje antigos membros tivessem uma boa situação financeira.

Claudio Guerra também falou sobre os sepultamentos clandestinos e as cremações. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.

Hoje, Cláudio Guerra é pastor evangélico da Assembleia de Deus. “Minha historia é feia, não me orgulho dela, quero passar a limpo”, disse. Segundo o vereador Natalini, o ex-delegado teria explicado que está “tentando ganhar a salvação pelo que fez contando as barbaridades do passado”. “Conversei muito para deixá-lo a vontade , não fui lá para julgá-lo”, observou.

Outros membros da Comissão da Verdade elogiaram a atitude de Natalini que, mesmo tendo sido preso e torturado durante a ditadura, foi ao encontro de Guerra e fez a entrevista. O presidente do colegiado reiterou que irá ainda ouvir os coronéis Ustra e Calandra.
Confira matéria da TV Câmara:

(23/04/2013 – 16h03)